Filmado na Argentina, Índia, Quênia e Marrocos, o longa evidencia o quanto o acesso à educação ainda é, para muitos, uma maratona desigual, marcada pela ausência de infraestrutura e pela força da esperança. As histórias de Carlito, Jackson, Zahira e Samuel conectam geografias e culturas diferentes por meio de um desafio comum: a distância entre o saber e quem sonha com ele.
Travessias que ensinam
Na região de Mendoza, na Argentina, Carlito, 11 anos, monta seu cavalo ao lado da irmã mais nova. Juntos, percorrem trilhas sinuosas da cordilheira para chegar à escola rural onde estudam. A jornada começa de madrugada, em meio ao frio, e leva horas. Mas o esforço não intimida: ao contrário, parece reforçar o valor do que se busca.
Em outra latitude, no Quênia, Zahira e suas amigas deixam o vilarejo ao amanhecer e caminham por mais de 20 quilômetros para frequentar as aulas. O caminho, embora exaustivo, é atravessado em grupo. Riso, conversa e solidariedade ajudam a empurrar os pés – e os limites.
Já na Índia, Jackson corre lado a lado com o irmão menor por estradas movimentadas, cheias de obstáculos urbanos. Na ausência de transporte escolar, o improviso vira rotina. Em Marrocos, Samuel, com apenas nove anos e mobilidade reduzida, é empurrado por seus irmãos em uma cadeira de rodas adaptada sobre o solo irregular do deserto. Seu percurso é o mais lento – e talvez o mais simbólico.
Educação como construção coletiva
Mais do que registrar dificuldades, o documentário revela o poder do afeto e da coletividade. Nenhuma criança caminha sozinha. Atrás de cada passo há mãos que empurram, guiam, esperam. Famílias inteiras se mobilizam para que uma criança possa aprender. Ir à escola, nesses contextos, é uma conquista comunitária.
As imagens captadas por Plisson mostram que, apesar das adversidades, o valor atribuído à educação é imenso. Mesmo onde faltam estradas, sobram convicção e coragem. A escola não é apenas um prédio com carteiras; ela se torna um símbolo de transformação possível.
Onde o chão também ensina
Se os deslocamentos diários desafiam o corpo, também formam o espírito. As rotinas de Carlito, Zahira, Jackson e Samuel são verdadeiras provas de resistência. Elas expõem o contraste entre quem precisa vencer obstáculos físicos para estudar e quem, por vezes, recusa o saber por estar cercado de acesso. São histórias que incomodam pela força com que revelam disparidades – e inspiram pela ternura com que respondem a elas.
A educação, nesse contexto, não é apenas conteúdo. É pertencimento. É a única ponte entre uma vida de limitações e um futuro de escolhas. As longas caminhadas não são apenas deslocamentos espaciais, mas exercícios profundos de cidadania em construção.
Caminhos que exigem políticas
A Caminho da Escola convida o espectador a ir além da contemplação. É impossível assistir sem se perguntar: por que tantas crianças ainda enfrentam jornadas tão duras para acessar algo que deveria estar mais próximo? Que medidas podem ser tomadas para encurtar essas distâncias?
As histórias revelam uma urgência: garantir que o direito à educação não dependa do relevo, da localização geográfica ou da renda familiar. Elas também sugerem que soluções não virão apenas de cima. Iniciativas locais, cooperação entre comunidades, parcerias públicas e privadas são fundamentais para criar rotas mais seguras, transportes mais acessíveis e políticas mais sensíveis à realidade rural.