Lançado em 2017 e dirigido por Bong Joon-ho, Okja é muito mais que um longa de aventura com elementos de ficção científica. É uma crítica contundente aos bastidores da indústria alimentícia, ao sofrimento animal e aos mecanismos de consumo desenfreados. Na história, acompanhamos Mija, uma menina sul-coreana que criou laços profundos com Okja, um “super-porco” desenvolvido por uma megacorporação como solução para a crise global de alimentos.
A origem dos alimentos: o que não se vê, mas se consome
Okja coloca em xeque a cadeia industrial que transforma vidas em produtos. O filme revela como grandes corporações maquiam a crueldade com discursos de sustentabilidade e inovação tecnológica. Ao apresentar os “super-porcos” como uma revolução alimentar, a empresa Mirando Corporation esconde, por trás da aparência amigável e das campanhas publicitárias, práticas abusivas de confinamento e abate. O consumo de carne, nesse contexto, deixa de ser uma decisão trivial e passa a carregar implicações éticas e ambientais profundas.
A máquina de lucro e propaganda: quem lucra com o sofrimento?
Lucy Mirando, interpretada por Tilda Swinton, encarna a figura da CEO que equilibra carisma e ambição com um discurso progressista que pouco condiz com a realidade. Com estratégias de marketing emocional e uma imagem pública “limpa”, Lucy representa empresas que vendem promessas sustentáveis enquanto mantêm práticas questionáveis. Ao seu lado, Dr. Johnny Wilcox (Jake Gyllenhaal) — um apresentador excêntrico e exótico — mostra como o entretenimento pode ser usado para suavizar, ou até apagar, os traços de crueldade que sustentam certos setores da economia.
Ativismo, resistência e ética: quem fala pelos que não têm voz?
No caminho de Mija surge o grupo ALF (Frente de Libertação Animal), que age na clandestinidade para denunciar os abusos da indústria. Liderados por Jay (Paul Dano), esses ativistas mostram a tensão entre táticas radicais e princípios éticos — como quando evitam causar dor até mesmo a seus opressores. O encontro de Mija com esses personagens reforça que o embate contra práticas desumanas não se dá apenas por governos e legislações, mas também por meio de ações civis, escolhas individuais e vozes que se recusam a silenciar frente à injustiça.
Quando o global colide com o pessoal
A potência emocional de Okja reside no contraste entre a política global e a intimidade rural. Enquanto a empresa apresenta os “super-porcos” como resposta à fome mundial, Mija enxerga em Okja uma amiga, parte da família. Essa tensão entre o afeto e a utilidade econômica questiona a instrumentalização da vida. O que acontece quando seres vivos são tratados apenas como soluções logísticas? E qual o custo emocional de aceitar isso como normal?
Um espelho da nossa realidade
Embora ambientado em um futuro próximo ou alternativo, Okja traz à tona questões do presente: o impacto da pecuária intensiva no meio ambiente, as condições de animais em fazendas industriais, o consumo inconsciente e o marketing que mascara verdades. Em datas como o Dia da Terra (22 de abril), o Dia Mundial do Meio Ambiente (5 de junho) ou o Dia Mundial dos Animais (4 de outubro), o filme se torna ainda mais relevante ao provocar discussões sobre sustentabilidade e empatia.
Escolhas que moldam o mundo
O que comemos não é apenas uma questão de gosto — é uma decisão política, ambiental e ética. Okja nos convida a repensar hábitos, questionar propagandas e enxergar além das embalagens. Podemos continuar sustentando sistemas que exploram vidas em nome do lucro? Ou podemos buscar alternativas que conciliem nutrição, respeito e futuro?
Okja não oferece respostas simples, mas provoca perguntas urgentes. Num tempo em que a sustentabilidade virou palavra-chave e o bem-estar animal ganha espaço nas políticas públicas, o filme funciona como alerta e metáfora. Ele nos lembra que, por trás de cada refeição, há histórias — e, muitas vezes, vidas — que merecem ser contadas.