Em um mundo onde nem sempre a infância é um espaço de acolhimento e possibilidades, a pequena Matilda Wormwood nos lembra que o saber — aliado à imaginação — tem um poder revolucionário. Lançado em 1996 e baseado na obra de Roald Dahl, o filme Matilda segue encantando gerações por sua delicada e potente mensagem sobre superação, autonomia e educação.
Uma menina extraordinária em um mundo hostil
Desde muito cedo, Matilda demonstra habilidades muito acima da média. Aprendeu sozinha a ler antes mesmo de ir à escola e, ainda criança, mergulha em clássicos literários com uma sede insaciável de conhecimento. Mas esse brilho intelectual contrasta com o ambiente em que ela cresce: um lar marcado por negligência e zombarias, onde o saber é visto com desconfiança e a curiosidade, como uma ameaça.
Na escola, as dificuldades continuam. Sob o comando da autoritária diretora Trunchbull, a instituição representa um espaço de repressão, onde a rigidez sufoca o aprendizado. É nesse cenário que entra em cena a professora Miss Honey — figura que enxerga em Matilda não apenas inteligência, mas humanidade. Com afeto, ela oferece o que a menina mais precisava: reconhecimento e incentivo.
Educação como resistência
Ao longo da narrativa, o espectador acompanha a transformação de Matilda. Seu amor pelos livros não é apenas um traço de personalidade, mas uma ferramenta de resistência. Por meio da leitura, ela encontra refúgio e, mais do que isso, constrói possibilidades para além do que o ambiente ao seu redor parecia permitir.
Essa trajetória nos convida a refletir sobre quantas crianças, diariamente, enfrentam obstáculos similares — seja por contextos familiares desestruturados, sistemas escolares ineficazes ou falta de acesso a materiais culturais. E mais: o quanto a leitura, a arte e o conhecimento seguem sendo caminhos potentes de libertação.
Saber como ato de coragem
O filme não romantiza as dificuldades de sua protagonista, mas evidencia sua coragem em enfrentá-las. Matilda não espera ser salva. Ela cria rotas, desafia limites, inventa soluções. Ainda que fictícia, sua figura carrega verdades simbólicas: a de que a capacidade de aprender e imaginar pode dar novo significado à vida, mesmo diante do abandono e da injustiça.
Miss Honey, por sua vez, representa a esperança de um sistema educacional mais humano. Ao contrário da diretora que subjuga, ela escuta, acolhe, incentiva. Mostra como o olhar atento de um educador pode ser decisivo no florescimento de talentos que, de outro modo, seriam silenciados.
Um convite à reflexão
Mesmo ambientado em décadas passadas, Matilda segue atual. Em tempos onde o acesso à educação ainda é desigual e a leitura é, muitas vezes, deixada de lado, o filme propõe uma revalorização do conhecimento como instrumento de construção de futuros.
A narrativa nos lembra que escolas devem ser espaços de liberdade e estímulo, não de contenção. Que toda criança tem direito ao encantamento com as palavras, à descoberta do mundo e à chance de ser protagonista da própria história.
Livros que libertam
Mais do que uma fantasia infantil, Matilda é uma celebração da inteligência, da criatividade e da autonomia. É sobre como uma menina, armada apenas com livros e coragem, transforma sua realidade. E sobre como, ao reconhecermos o valor da educação desde cedo, plantamos sementes para um amanhã mais justo, mais sensível — e, quem sabe, mais brilhante.