“Quando Asha descobre que o rei Magnífico aprisiona os desejos do povo de Rosas, decide libertá-los — provando que nenhum sonho é pequeno demais quando guiado por coragem e aprendizado.”
Essa frase poderia facilmente estampar um cartaz de motivação escolar, mas pertence ao mais novo lançamento da Disney, Wish – O Poder do Desejo, uma animação que celebra os 100 anos do estúdio com um convite simbólico à imaginação, à liberdade e à força coletiva da juventude.
A menina, a estrela e a vontade de mudar
No reino encantado de Rosas, um lugar visualmente inspirado na Península Ibérica, os sonhos não são apenas metáforas: eles são capturados, armazenados e “protegidos” por uma figura carismática e controladora — o rei Magnífico. É nesse cenário que surge Asha, uma jovem de 17 anos, curiosa, inquieta e disposta a fazer perguntas que ninguém mais ousa. Por que alguém deveria decidir quais sonhos merecem ser realizados? Por que o conhecimento e a imaginação de um povo seriam engarrafados como se fossem perigosos?
Quando sua indignação se transforma em desejo, ela é surpreendida pela aparição de uma estrela mágica — um ser cósmico e mudo, mas intensamente expressivo, que passa a acompanhá-la como símbolo vivo da criatividade e da ação.
Um conto de fadas com perguntas bem reais
Ao longo da narrativa, Wish transforma o arquétipo da “jovem sonhadora” em um retrato poderoso da autonomia em formação. Asha não espera por milagres, nem aguarda ordens de cima. Ao contrário, é sua capacidade de aprender, questionar e unir pessoas ao redor de um objetivo comum que move a trama.
A estrela que cai do céu não concede desejos prontos — ela desperta ideias, potencializa ações, instiga reflexões. Nesse sentido, a magia que vemos na tela não está nos feitiços, mas na disposição de uma comunidade para reconhecer que o conhecimento não pertence a poucos, e que o futuro só pode ser construído com participação ativa de muitos.
Monarquia ilustrada ou controle velado?
O rei Magnífico, dublado por Chris Pine, representa uma liderança que se autoproclama protetora do povo, mas que, na prática, limita horizontes e reprime expectativas. Ele acredita saber o que é melhor para cada habitante de Rosas — desde que os desejos passem por seu crivo. O problema? Sonhos engarrafados perdem a força. Pessoas desautorizadas a imaginar perdem a voz.
Ao confrontar essa estrutura, Asha e seus amigos constroem, juntos, uma narrativa de emancipação que valoriza a diversidade, a empatia e a escuta mútua. O poder, no fim das contas, é descentralizado — não com rebeliões violentas, mas com aprendizado compartilhado e coragem para mudar.
Uma aventura para todas as idades — e todos os tempos
Embora se passe em uma era indefinida, com tecnologia pré-industrial e atmosfera de conto de fadas, Wish conversa diretamente com temas contemporâneos. Ao mostrar como a criatividade pode se tornar ferramenta de transformação social, o filme sugere que toda escola pode ser um laboratório de sonhos, toda família pode ser espaço de escuta, e toda liderança — pública ou privada — precisa ser questionada se estiver bloqueando talentos em nome de uma pretensa ordem.
A trilha sonora vibrante, as cores encantadoras e o humor leve tornam a obra acessível para crianças, mas sua densidade simbólica pode impactar igualmente pais, educadores e gestores que se dispuserem a enxergar além da fantasia.
Quando sonhar é um ato de resistência
Wish – O Poder do Desejo não é apenas uma fábula mágica sobre uma menina e uma estrela. É também um lembrete de que sonhar — com liberdade, com justiça, com futuro — pode ser o primeiro passo para construir realidades melhores. E, como mostra Asha, esse processo começa com uma pergunta simples, mas poderosa: “Por quê?”
Seja na tela ou na vida real, o desejo de mudar o mundo precisa ser escutado — e, acima de tudo, incentivado.