Inspirado na obra homônima de Dr. Seuss, o filme transforma a denúncia ambiental em poesia visual. Com uma narrativa leve, mas incisiva, The Lorax oferece uma reflexão profunda sobre o modelo de consumo que estamos alimentando e sobre as consequências da ganância desenfreada. É uma história para todos: crianças, jovens e adultos que ainda acreditam na possibilidade de um mundo mais verde, justo e coletivo.
A fábula que virou alerta
Produzido pelos estúdios Illumination, The Lorax mistura humor, cores e música para tratar de temas sérios como consumismo, degradação ambiental e responsabilidade social. A trama gira em torno de Ted, um garoto que vive em uma cidade artificial onde tudo é fabricado – até mesmo o ar que se respira. Ao descobrir o passado natural daquele lugar, ele embarca em uma jornada para tentar reverter os danos causados por uma empresa que devastou todas as árvores em nome do progresso.
Um mundo sem árvores: distopia ou realidade em construção?
No universo de The Lorax, as árvores são apenas lembranças do passado. O ar é engarrafado e vendido como produto. Tudo é artificial. E ninguém questiona isso — até que Ted, um garoto curioso, decide buscar respostas fora dos muros da cidade. Através de sua jornada, conhecemos o personagem que dá nome à história: o Lorax, guardião das árvores e voz da natureza.
O que se desenrola é uma crítica contundente ao modo como exploramos os recursos naturais. O filme mostra, com humor e tristeza, como a destruição ambiental pode parecer “normal” quando é sistemática e lucrativa. Mas também revela que toda mudança começa com uma semente — literal e metaforicamente.
Entre rimas e alertas: o legado de Dr. Seuss
A estética inconfundível de Dr. Seuss está presente em cada curva da animação. As cores vibrantes, os cenários surrealistas e as falas rimadas ajudam a suavizar um tema pesado, tornando a mensagem acessível sem perder profundidade. Essa é uma das grandes forças do filme: traduzir uma crítica social complexa em uma linguagem sensível, envolvente e instigante.
Ao fazer isso, The Lorax se consolida como uma ferramenta poderosa de educação ambiental. Ele não apenas denuncia o problema, mas oferece caminhos de esperança. A figura do Lorax — parte ativista, parte espírito da floresta — nos lembra que a natureza tem muito a dizer, mas nem sempre é ouvida.
Consumo, responsabilidade e mudança
Além da crítica à degradação ambiental, o filme toca em outro ponto sensível: a naturalização do consumo como forma de vida. Em Thneedville, tudo é vendido, inclusive o ar. As pessoas se contentam com o artificial, desde que seja conveniente. O resultado é um apagamento completo da relação entre humanos e natureza.
O paralelo com situações atuais é inevitável. Se, na animação, as árvores desaparecem como consequência direta da ganância empresarial, no Cairo os cortes vêm sendo realizados por iniciativa do governo, com o objetivo de modernizar a infraestrutura da cidade. A justificativa oficial é de que as árvores impedem o avanço de obras consideradas estratégicas para o desenvolvimento urbano.
Entretanto, especialistas apontam que essa escolha ignora os custos ambientais e sociais da perda de áreas verdes. A redução de árvores impacta diretamente o microclima urbano, aumenta a poluição do ar e compromete a saúde da população. Em 2023, o Egito registrou temperaturas recordes e enfrentou episódios de calor extremo, agravados pela redução da cobertura vegetal.
E se tudo começasse com uma semente?
No desfecho do filme, uma simples semente se transforma em símbolo de resistência e renascimento. Plantar uma árvore, nesse contexto, é mais do que um gesto ecológico: é um ato político, social e afetivo. É declarar que outro mundo é possível — mas que ele depende do que fazemos agora.
Mais do que um filme sobre o meio ambiente, The Lorax é uma convocação. Um chamado para que deixemos de ser espectadores e passemos a ser protagonistas da mudança. Através da imaginação, ele nos faz ver com mais clareza. E nos lembra que cuidar da Terra não é uma opção. É uma urgência.