A próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) em setembro desperta grande expectativa. Alguns analistas e o mercado financeiro defendem a possibilidade do Banco Central (BC) elevar os juros e iniciar um ciclo de altas até dezembro, adiando uma queda mais expressiva para o próximo ano. Entretanto, há divergências entre os especialistas em relação a uma postura mais agressiva do BC.
Felipe Salto, economista-chefe da Warren, argumenta que não há fundamentos técnicos para um aumento da Selic em setembro. Ele descarta a ideia de insustentabilidade da política fiscal e de desancoragem das expectativas de inflação, que são aspectos frequentemente levantados para justificar uma postura mais rígida da autoridade monetária. Salto destaca que a situação fiscal interna e as expectativas de inflação não sustentam, no momento, um aumento das taxas de juros.
Além disso, Salto considera o cenário externo, apontando a previsão de redução dos juros nos Estados Unidos em setembro. Essa possível diminuição das taxas de juros nos EUA beneficiaria o Brasil, aliviando a pressão sobre o BC. Segundo o economista, essa movimentação do Fed poderia contribuir para a valorização do real em relação ao dólar, auxiliando no controle da inflação.
Apesar de não ver a necessidade de elevação da Selic, Salto ressalta que é importante considerar as declarações recentes de diretores do Banco Central. Gabriel Galípolo, diretor de Política Monetária do BC, afirmou que um possível aumento dos juros está em discussão para o Copom. Galípolo destacou a importância de tomar medidas necessárias para cumprir a meta de inflação.
Atualmente, a Selic está em 10,50% ao ano. O ciclo de cortes teve início em agosto de 2023, mas as perspectivas do mercado sobre a saúde fiscal brasileira se deterioraram no primeiro semestre devido a mudanças na meta fiscal, declarações do presidente Lula sobre gastos e a falta de medidas de contenção de despesas. Certa instabilidade no cenário internacional também influenciou a visão pessimista, com o dólar se valorizando em relação ao real.
As projeções do Boletim Focus indicam que a taxa básica de juros deve permanecer em 10,50% ao final de 2024, reduzindo para 9,75% em 2025.