“Kamala é pirralha”. Com esse tweet, a cantora britânica Charli XCX transformou a campanha de Kamala Harris à presidência dos Estados Unidos, mesmo antes de oficialmente começar. O post, feito após a desistência de Joe Biden da reeleição, projetou na vice-presidente a “atitude brat”.
Kamala é pirralha
— Charli (@charli_xcx) 22 de julho de 2024
É importante entender. pirralha é o nome do 6º álbum de Charli XCX – muito popular entre a geração Z. A palavra significa “pirralha”. Mas Charli XCX ampliou o significado.
Para a cantora, uma garota com atitude brat é aquela que rejeita o estereótipo de “perfeitinha”. Que é honesta sobre suas inseguranças e não tenta ser outra pessoa além de si mesma. Para os fãs da cantora, Charli atribuiu esse ideal de autenticidade a Kamala ao afirmar que a candidata tem uma atitude pirralha.
A aprovação virtual do ícone pop basicamente apresentou um vice-presidente ao público jovem. E foi fundamental para rejuvenescer a campanha democrática – até então centrada em um senhor de 81 anos.
Agora todos são tiktokers
A campanha de Kamala está aproveitando habilmente a onda, direcionando seus esforços para o TikTok.
A rede social pertencente à empresa chinesa ByteDança ainda está enfrentando pressão dos políticos americanos – incluindo a própria Kamala Harris, que defende a venda da versão americana do aplicativo para um empresário dos EUA –, mas o TikTok é praticamente indispensável para quem está em uma campanha nacional.
Donald Trump também está ciente disso. O republicano criou sua conta no TikTok em junho. O primeiro vídeo já alcançou mais de 173 milhões de visualizações e seu perfil é seguido por mais de 10 milhões de pessoas – demonstrando a popularidade do ex-presidente e a capacidade de mobilização de seus seguidores.
A conta oficial de Kamala foi criada um mês depois e tem números mais modestos – 4,5 milhões de seguidores e pouco mais de 24 milhões de visualizações no vídeo mais popular –, mas a campanha da democrata está conseguindo viralizar coleções de vídeos postados em uma outra conta: na @KamalaHQ, onde a estratégia é definida por funcionários com até 25 anos.
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O TikTok é crucial para os democratas porque 1) seus usuários são majoritariamente jovens, especialmente quando comparados às redes “tradicionais” como Instagram, Facebook e Twitter; e 2) o consumo de conteúdo tende a ser passivo, com o algoritmo da rede chinesa sugerindo vídeos com base nas informações fornecidas pelo usuário enquanto utiliza a plataforma.
Essa distribuição no TikTok nivelou a vantagem numérica de Trump em relação a Kamala. O número de seguidores e o histórico de curtidas, interações e viralizações passadas são menos relevantes do que em outras redes sociais.
Embora não ofereça uma “paridade de armas” completa – ter milhões de seguidores ainda é uma vantagem significativa –, o TikTok oferece à campanha de Kamala a oportunidade de viralizar com base em seus próprios méritos, post a post. E contar com o apoio de uma artista como Charli XCX, popular entre boa parte dos usuários da rede, é de grande ajuda.
‘Velha mídia’
Nas plataformas mais tradicionais, o cenário é diferente. A familiaridade que o público tem com Trump é uma vantagem clara para o candidato republicano, mas a relação entre ele e as redes sociais está em processo de ajuste. O ex-presidente foi banido do Twitter, Instagram e Facebook após a invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021.
Agora, ele retornou às três redes, o que significa recuperar um alcance de 150 milhões de usuários.
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O Twitter, como sabemos, se tornou X desde a aquisição por Elon Musk, que se tornou um apoiador fervoroso do republicano. Em 12 de agosto, Musk entrevistou Donald Trump em uma transmissão exclusiva da plataforma, evento que contribuiu com US $ 1 milhão para a campanha.
O também republicano investe na Verdade Social, rede criada por ele e que imita o X de Elon Musk. A plataforma foi lançada após a expulsão de Trump do Twitter. Embora alguns especialistas acreditem que a Truth Social possa perder importância e alcance com a volta de Trump às concorrentes, ele continua a postar com frequência, às vezes centenas de vezes por dia na plataforma.
Senhorita Americana
Se um tweet de Charli XCX já impulsionou a campanha democrata, imagine o possível apoio de Taylor Swift – a artista mais influente do planeta, com uma legião de fãs conhecidos como os velozes.
Taylor ainda não revelou quem está apoiando nessas eleições. Pode parecer trivial, mas não é: a enorme popularidade da cantora certamente ajudaria a definir o futuro ocupante do Salão Oval nos próximos quatro anos.
Em 2016, ela não direcionou os votos de seus fãs nem para Donald Trump nem para Hillary Clinton. Já em 2020, ela declarou seu apoio a Joe Biden. Quando se trata de política, Taylor é claramente progressista e nunca apoiou um político republicano, o que teoricamente faria seus fãs se identificarem mais com os democratas.
No entanto, nos Estados Unidos, o voto não é obrigatório e é necessário se registrar para votar. Portanto, a capacidade dos candidatos de mobilizar eleitores pode ser crucial para o resultado, destacando a importância de figuras extremamente populares como Taylor Swift.
Enquanto a cantora não se envolve na campanha – se é que o fará –, seu nome é arrastado para o cenário político americano, inclusive por iniciativa de Donald Trump. No domingo (18), o ex-presidente confirmou em sua conta na Truth Social imagens geradas por inteligência artificial que aparentemente sugeriam apoio à candidatura republicana.
Uma dessas imagens mostrava Swift com a manchete “Taylor quer que você vote em Donald Trump”. O ex-presidente republicano comentou “eu aceito”.
Taylor ainda não se pronunciou sobre o incidente, mas a iniciativa de Trump causou irritação entre os fãs da cantora.