Greta Thunberg, sueca, autista, vegetariana, ativista e ainda menor de idade quando tudo começou, iniciou sua jornada com um cartaz simples e uma mensagem clara: é hora de agir. Sentada sozinha em frente ao parlamento sueco, ela deu início a um movimento que atravessou fronteiras e despertou consciências. O documentário acompanha esse percurso, revelando tanto a potência política quanto a fragilidade humana de quem se colocou contra a inércia de um sistema global.
O grito que cruzou os oceanos
De Estocolmo à sede das Nações Unidas em Nova York, Greta percorre um caminho incomum: sem aviões, sem promessas vagas, sem concessões ao discurso político tradicional. Seu estilo direto, sua aparência reservada e seu comprometimento absoluto tornam-se ferramentas de impacto — não por ostentação, mas por coerência.
O filme mostra bastidores de viagens, reuniões e discursos, mas também cenas íntimas: o cansaço, as crises de ansiedade, os momentos de recolhimento. É aí que I Am Greta revela sua força. Ao humanizar a figura que se tornou ícone, o documentário desafia o estereótipo do “herói infalível” e nos apresenta uma jovem real, cuja vulnerabilidade é parte indissociável da sua coragem.
A geração que se recusa a herdar o colapso
Greta não está sozinha. Seu movimento inspirou milhões de jovens ao redor do mundo. As greves escolares pelo clima, as marchas, os discursos contundentes diante de líderes mundiais criaram uma nova linguagem política — uma que recusa o gradualismo e exige ação imediata.
O filme capta esse impulso coletivo com sensibilidade: cartazes feitos à mão, aplausos em praças públicas, lágrimas contidas após discursos duros. A juventude, muitas vezes tratada como público-alvo de decisões alheias, aqui ocupa o centro do debate, cobrando responsabilidade e compromisso.
Coragem, coerência e um mundo em negação
Diagnosticada com síndrome de Asperger, Greta descreve seu autismo como “superpoder”. A rigidez com a verdade, a intolerância à incoerência e a hiperfoco são apresentados não como limitações, mas como parte essencial da sua atuação. Enquanto o mundo racionaliza o inaceitável, ela insiste no óbvio: os números da ciência não mentem, e continuar como estamos é caminhar rumo ao desastre.
I Am Greta não procura respostas fáceis. Não há final feliz, tampouco soluções mágicas. O documentário é, em si, um alerta: se até uma adolescente sem cargo, sem financiamento e sem interesses corporativos consegue mobilizar o planeta, por que os tomadores de decisão permanecem imóveis?
O silêncio é escolha. A ação também.
Mais do que documentar uma trajetória, I Am Greta lança uma provocação: quantos mais precisarão gritar até que os ouvidos se abram? A voz de Greta, serena e firme, atravessa salões, câmaras e palanques para nos lembrar de algo essencial: o tempo da mudança não é amanhã. É agora.
Greta não quer ser admirada. Ela quer ser ouvida. E é justamente por isso que seu grito ecoa tão forte — porque, em meio à omissão de tantos adultos, foi preciso que uma jovem dissesse, com todas as letras, que não existe futuro num planeta em colapso.