Uma das questões importantes na relação entre a autarquia e o executivo nos últimos dois anos foi o impacto político entre o atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, e o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O mercado teme que agora, com uma indicação de Lula, o BC possa se desviar do seu caminho. Mas Fraga reforça que os quadros da autarquia atuam com o objetivo de cumprir a lei, que no caso do órgão, exige manter a inflação na meta definida pelo governo.
Ele avalia que o Brasil tem hoje um tripé econômico pertinente: a sustentabilidade do sistema depende de uma meta robusta para inflação, um câmbio flutuante e responsabilidade fiscal. Se uma perna fica bamba, as outras tendem a balançar junto. E é nesse ponto que entraria o ganho com a relação do Galípolo com o executivo.
Após a alteração do governo no meta fiscal do ano que vem de um superávit primário para déficit zero, a perspectiva sobre as contas públicas tem se deteriorado à medida que o governo segue ampliando gastos e encontrando dificuldades para cortá-los ou compensá-los.
Recentemente, Lula iniciou uma maior abertura para o tema e avaliar junto da equipe medidas econômicas para reduzir o rombo nas contas públicas. E para Armínio Fraga, Galípolo tem um papel importante nessa discussão.
Por conta disso, Fraga aponta que não é de interesse do governo limitar a atuação do Banco Central, uma vez que minar o combate à inflação pode acabar minando a própria política do governo.
Ele, que já ocupou a cadeira que Galípolo ainda pode vir a ocupar – a confirmação fica a depender da sabatina no Senado -, aponta que está esperançoso de que o sistema vai funcionar e de que as questões da área fiscal possam ser tratadas, mas mantém o pé no chão ao lembrar que “só vamos saber quando ele lá estiver”.
“Se a confiança de que o Banco Central deveria comandar for abalada por uma política monetária exótica, primeiro os prêmios de risco vão subir, a versão vai ser acionada, e o Brasil vai conviver com restrições recessivas e inflacionárias”, explica Fraga.
“Hoje, não tiro nenhuma consequência ruim, ainda temos que esperar e dar chance para desenvolver o trabalho e avaliar”, conclui.