Reboot da clássica comédia familiar moderniza o conceito de lar, celebrando diversidade, co-parentalidade e amor em escala ampliada
Uma casa, muitas histórias: o desafio de ser família hoje
Em tempos de famílias reconfiguradas, múltiplas jornadas de trabalho e redes sociais moldando rotinas, Doze É Demaisretorna em 2022 com uma proposta atualizada e representativa. Dirigido por Gail Lerner e lançado exclusivamente no Disney+, o reboot da comédia que marcou gerações propõe um olhar contemporâneo sobre os dilemas (e delícias) de uma família “blended” unida não apenas por sangue, mas por afeto, escolha e adaptação.
Desta vez, Paul (Zach Braff) e Kate Baker (Gabrielle Union) comandam uma casa com dez crianças: filhos de casamentos anteriores, filhos biológicos do novo casal e dois filhos adotivos. Entre ex-cônjuges, partidas de basquete, provas escolares, problemas de disciplina e um restaurante familiar para administrar, o filme transforma o cotidiano em uma maratona de malabarismos emocionais e logísticos. No fundo, a pergunta é simples: como manter o amor e a ordem quando tudo parece girar em alta velocidade?
Trabalho e lar: o restaurante como metáfora da casa
O restaurante dos Bakers é uma metáfora. Assim como uma cozinha exige coordenação, escuta e rapidez, uma casa com doze pessoas precisa operar com precisão e empatia. A pressão para conciliar expansão do negócio com a atenção individual a cada filho provoca os principais conflitos do filme. A crise, que chega quando um ex-marido tenta retomar a guarda dos filhos, expõe a fragilidade e a força de uma estrutura familiar construída com esforço e carinho.
A direção de Lerner e a fotografia calorosa de Mitchell Amundsen optam por tons aconchegantes e luz natural, enfatizando o “acolhimento no caos”. Já a edição ágil de Troy Takaki capta o ritmo alucinante de uma casa cheia, com cortes rápidos e situações sobrepostas que retratam com fidelidade (e humor) o cansaço e a alegria de ser pai e mãe nos dias de hoje.
Diversidade como essência, não acessório
Um dos grandes trunfos desta versão é a diversidade, não apenas de etnias, mas de experiências familiares. Os Bakers são inter-raciais, os filhos têm vivências distintas, com diferentes necessidades, personalidades e referências culturais. Em vez de usar isso como pano de fundo, o roteiro de Kenya Barris e Jenifer Rice-Genzuk Henry coloca essas diferenças no centro da convivência, mostrando que a inclusão não se trata de perfeição, mas de respeito e aprendizado constante.
Além disso, a divisão das tarefas parentais com Paul e Kate alternando turnos e dividindo responsabilidades reforça a ideia de equidade de gênero no lar, tema alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), especialmente os que tratam da igualdade (ODS 5) e do bem-estar (ODS 3).
Streaming e didatismo leve: o DNA Disney+
Pensado para o catálogo da Disney+, o filme equilibra humor físico com lições de convivência, em um tom didático leve — ideal para pais e filhos assistirem juntos. Se a crítica especializada foi pouco generosa (36% no Tomatometer), o filme encontrou seu público na audiência familiar, conquistando a 5ª posição entre os longas mais assistidos na semana de estreia nos EUA. Sua linguagem acessível, o ritmo ágil e os temas universais explicam esse alcance.
O maior mérito do longa, porém, talvez seja atualizar o conceito de “normal” quando se fala em família. Hoje, o lar pode ter dois pais, duas mães, filhos de várias origens, irmãos por afinidade ou guarda compartilhada. E o filme, ainda que idealizado, se esforça para reconhecer essas configurações como legítimas e cheias de amor.
Caos produtivo: a bagunça como elo afetivo
No fim das contas, Doze É Demais reforça que o riso, a bagunça e até os conflitos fazem parte da construção de vínculos. Entre uma refeição que desanda e uma reunião cancelada por causa de um toró de birras infantis, o que se vê é um lar onde a imperfeição é celebrada e o esforço constante de se manter juntos é o verdadeiro superpoder.
Neste mundo onde tudo é acelerado, a mensagem é clara: criar uma família dá trabalho, mas vale cada segundo. Afinal, como sugere o tom da narrativa, sendo ele um caos alegre moldado em lições de afeto, onde não existe fórmula mágica para educar. Só presença, paciência e muito (muito) amor.